sexta-feira, 5 de outubro de 2012

os pássaros nascem na ponta das árvores










As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
Deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
Quando o Outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
Mas deixo essa forma de dizer ao romancista
É complicada e não se da bem na poesia
Não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração

Ruy Belo


3 comentários:

Anónimo disse...

Este é o poema mais bonito que conheço com o Outono dentro. Obrigado.
cn

Anónimo disse...

O meu coração é azul.
Não como o dos velhos músicos que dizem isso a cantar
não como o dos amantes tristes que encontram aí a cor da lonjura
não como os sonhos de infância levados pelos pássaros.
É azul por nascimento
desvio da natureza
pequeno ensaio de nova humanidade.
Aquece mais, ama mais, brilha mais quando tudo já é acalmia
segura o corpo pelas veias mais finas
amacia a voz, para chegar mais perto dos outros corações.
cn

leonor disse...

ainda bem que voltei a tecer o azul.