domingo, 23 de setembro de 2012

18



 The Laughing Heart

your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.


Charles Bukowski


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

destecer


a escritora e ensaísta Marina Colasanti esteve por cá recentemente nas Palavras Andarilhas. A Rita Pimenta do blog Letra Pequena teve a sorte de conversar com ela e conta-nos tudo aqui.





A Moça Tecelã

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
- Uma casa melhor é necessária, - disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. 

– Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. 
Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
- É para que ninguém saiba do tapete. - disse. 

E antes de trancar a porta à chave, advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.








segunda-feira, 17 de setembro de 2012

sonhos felizes






My Little Airport

(traduzido às escuras, parece que o tema se chama: Andar a pé no jardim zoológico é coisa séria  )

sábado, 15 de setembro de 2012

lugar reservado



























caminhas na luz dos meus olhos e em tempo gordo fazes as honras da casa.
guias-me pela cassiopeia 
adornas os meus cabelos com romãs e resguardas-me dos vidros e escarpas.
eu prolongo a estadia, demoro-me 
enquanto aguardo outra face da lua, recolho-me
e reservo lugar na eternidade.
para dois.



(img.) 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

lisboa a contar






Sexta-feira, 7 de Setembro
                  - 17h- Contando pelas Ruas com início debaixo do abeto centenário do Jardim do Príncipe Real - acompanhados pelo acordeão de Rini Luyks e pelos contos dos contabandistas e amigos - (público familiar - entrada livre)- caminhada com pausas para contos no Miradouro de São Pedro de Alcântara (com oferta de maravilhosa vista para o Castelo de São Jorge), na Cervejaria Trindade (com oferta duma imperial), no Largo do Carmo (com oferta de cantorias e contarias da Ana Sofia Paiva) e terminando em grande no Largo do Teatro Nacional de São Carlos;





                  - Serão no Teatro da BARRACA (cada espectáculo - 4 euros - bilheteiras abrem às 20h para vender bilhetes para ambas as sessões da noite):
                                    21h00 - Contando à Portuguesa com Cristina Taquelim e António Fontinha;
                                    22h20 - Ben Haggarty (contos em inglês sem tradução)
                 - 23h59 - Micro-Maratona de contos no Bar A BARRACA - contos com um máximo de 7 minutos de duração - inscrições em festivalcontoslisboa@gmail.com - entrada livre


Sábado, 8 de Setembro
             - 10h30 - Contos no Jardim da Estrela com Benita Prieto (Brasil) - ( entrada livre)
             - 16h00 - Contos do Sobe e Desce (com os contabandistas e amigos) - (público familiar - entrada livre) - encontro no Largo do Camões
             -17h30 - - Apresentação do livro de Rodolfo Castro "A Intuição Leitora, A Intenção Narrativa" da Editora Gatafunho (com o apoio IELT-FCT) e Conversa sobre a Narração com Cacharoletes da Grant's no Bar A BARRACA
             - Serão no Teatro da BARRACA (cada espectáculo - 4 euros - bilheteiras abrem às 20h para vender bilhetes para ambas as sessões da noite):
                                    21h00 - Manuel Garrido e Maria del Mar 
                                               (contos em portuñol com ilustração ao vivo projectada)
                                    22h20 - Jan Blake (contos em inglês sem tradução)
             - Contatinas de Luís Carmelo com Nuno Mourão no Bar A BARRACA depois dos espectáculos - entrada livre



Domingo, 9 de Setembro
              - 10h - Contos com Vista para o Horizonte (público familiar - entrada livre)
Encerramos em festa com todos os contadores do festival e com música de Rini&Bastolini olhando para o boca do Tejo por onde partiram os navegadores portugueses para desbravar tantas TERRAS INCÓGNITAS
- no Anfiteatro ao ar-livre do Center for the Unknown da Fundação Champalimaud 




via 

sábado, 1 de setembro de 2012

do imaginar




"... procura Alfândega da Fé, lá pelas terras quentes do azeite e da amêndoa. Desliza um pouco para a direita, até Parada; aí estás numa varanda sobre a linha sinuosa do Sabor, é numa curva larga do rio, sítio de passagem a vau entre campos e desertos, que fica, ainda, o Santo Antão da Barca, no seu último verão antes da grande cheia.

ou vai até ao Pocinho, onde agora acabam os comboios que correm Douro fora. Aí vai ter, a esse Douro adormecido por mil albufeiras, o Sabor, que desce de Espanha e passa rente a Torre de Moncorvo. Vai subindo com dedo, desenhando linhas de pescoço, curvas de ombro, cornucópias, passa Felgar, terra de oleiros esquecidos, passa Cilhades, a abandonada, passa quintas vazias que ainda têm nomes bonitos e ilusões de gente, e voltas a encontrar o Santo Antão, pousado no lado esquerdo.(...)"
 cn