domingo, 28 de junho de 2009

tempo grande

ontem, perdi as noites brancas mas encontrei o Verão aqui. trouxe-o para casa. cheira a guardado. assim, como todos os tesouros que nos lembram o tempo gordo da infância e que persistimos em querer encontrar, todos os anos, quando o tempo aquece e fica grande.


O Verão
é uma árvore
carrregadinha de pêssegos.
(...)
É o tempo
em que o sol queima
e apetece estar deitado
à sombra das árvores
a ouvir conversas
de passarinhos.
(...)
O Verão
é o tempo das festas
na aldeia.
(...)
O Verão
é o tempo das zínias
e das sécias.
(...)

Maria Isabel César Araújo
ilustrações de Maria Keil

segunda-feira, 22 de junho de 2009

próximo futuro

em Lisboa, nas próximas semanas, acrescentam-se motivos para passear por aqui: a sombra está enfeitada com versos, há filmes para ver ou rever enquanto as rãs mergulham por perto e a música poderá ser inesperada. é o futuro já aqui.





"A Casa", instalação do brasileiro José Bechara
Próximo Futuro é um programa Gulbenkian de Cultura Contemporânea dedicado em particular, mas não exclusivamente, à investigação e criação na Europa, na América Latina e Caraíbas e em África. O seu calendário de realização é do Verão de 2009 ao fim de 2011.

"(...) O Mundo está diferente e isso implica uma responsabilidade maior para os que nele têm capacidade de intervenção. Há uma personagem de “À Espera dos Bárbaros”, de J.M. Coetze, que diz «Há qualquer coisa a meter-se-me pelos olhos dentro e ainda não consegui ver o que é». Mesmo assim, ou por isso mesmo, é fundamental estar disponível para o que vem, na sua estranheza e na sua imprevisibilidade, e as crises são momentos cruciais para a intervenção que modifica, altera, recoloca as questões centrais. Foi graças a este espírito que os estudos pós-coloniais – hoje já alojados nas universidades e já sem a carga de algum panfletarismo que, necessariamente, tiveram no seu início - que nós europeus nos redescobrimos, na construção de outras narrativas mais justas sobre a história e, sobretudo, na possibilidade que nos é agora dada de beneficiar da memória e da conciliação. E aqui a importância das novas narrativas – que no caso dos países da América Latina e Caraíbas já começaram há mais tempo e que, no caso de África e em alguns países de Oriente, são mais recentes – é fulcral para agir no futuro próximo. De uma forma geral, e mesmo em situações conturbadas, estas novas narrativas surgidas das independências transportam com elas uma energia e uma vitalidade raras. São elaboradas por populações e criadores de países à procura de construírem novas identidades e, com elas, novas formas de representarem e viverem o mundo. Não são países perfeitos, nem paradisíacos. Em muitos deles há guerra, corrupção, racismo e xenofobia, mesmo entre africanos, ou ressentimentos, entre povos latino-americanos. Mas, que sabemos nós das suas realidades e das suas razões para os julgarmos tão apressadamente, como é regra geral? Sabemos pouco e é fulcral sabermos muito mais(...)"

António Pinto Ribeiro

(o texto completo pode ser lido aqui . calendário aqui . imagens copiadas do blog)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

ايران

possibilidade poética num país a ferro e fogo :












fotografias de Abbas Kiarostami

'the tree is the sister of man'(Muhyiddin Ibn 'Arabi)

domingo, 14 de junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

sem tempo para aprender



" Today, I count myself blessed, having become a photographer. To be able to articulate the experiences of the voiceless, to bring their identity to the forefront, gives meaning and purpose to my own life " G.M.B.Akash















Dhaka. Bangladesh (ver aqui a série completa Born to Work )

no Zoriah, conheci o trabalho humanitário empenhado do admirável fotógrafo G.M.B.Akash, para quem, dar visibilidade ao trabalho infantil é a forma de pressionar o governo do seu país a devolver estas crianças à escola. vou continuar a acompanhar o seu olhar. por cá, o fenómeno arranjou disfarces e ensaia novas configurações. chamam-lhe "trabalho artístico"!

sem tempo para crescer



estas fotografias foram tiradas entre 1908 e 1910 por Lewis Hine (1874-1940), que dedicou grande parte da sua actividade de fotógrafo a documentar cenas de trabalho infantil nos EUA. Entre 1908 e 1912 Hine registou com a sua câmara aquilo que chamou rostos da juventude perdida: crianças de todas as idades a realizarem trabalhos de adultos. O fotógrafo conheceu-os todos. Conheceu as histórias de cada um. Posaram para ele, às vezes com o orgulho ingénuo de quem se julga gente grande, embora nos seus olhos estivesse toda a tristeza do mundo.
(fotos daqui)


























quinta-feira, 11 de junho de 2009

sem tempo para brincar

"O Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil comemora-se todos os anos a 12 de Junho, e tem como objectivo a conjugação de esforços do movimento global para eliminar o trabalho infantil. Destaca os perigos e os riscos que muitas crianças trabalhadoras enfrentam ainda muito jovens e as políticas necessárias para lutar contra o trabalho infantil." (mais informação aqui)






meninos e meninas sem infância. 50 histórias de vida de crianças trabalhadoras na cidade de Monterrey no México, recolhidas pela socióloga Sandra Arenal e ilustradas por Mariana Chiesa. um livro-documento-denúncia que nos empurra para a acção. na escola. porque a educação é a resposta certa ao trabalho infantil.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

língua enfeitada



Perguntas à Língua Portuguesa

Mia Couto

Venho brincar aqui no Português, a língua. Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta.

A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões? Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou.

Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio.

No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas.

Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro?

Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas? Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua:

Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo?

No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco?

• A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?
• O mato desconhecido é que é o anonimato?
• O pequeno viaduto é um abreviaduto?
• Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente.
• Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu?
• Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado?
• Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação?
• O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim?
• Onde se esgotou a água se deve dizer: "aquabou"?
• Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?
• Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro?
• Mulher desdentada pode usar fio dental?
• A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel?
• As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: "finanças"?
• Um tufão pequeno: um tufinho?
• O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha?
• Em águas doces alguém se pode salpicar?
• Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério?
• Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose?
• Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?
• Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?

Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós. Colocámos essoutro português – o nosso português – na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana.

Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas – o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos. Devolver a estrela ao planeta dormente.

(texto escrito em 1997)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

auto-defesa


capa de um livro dos anos 5o:
Let's go to vote
de Agnes McCarthy
ilustrado por Ruth Van Sciver (via minor details)

vou votar. um voto técnico. sem euforia. sem brilho. pura auto-defesa.
quero lá saber! vou votar e pronto!

terça-feira, 2 de junho de 2009

killing work

às vezes brinco às escondidas com o trabalho. a corrigir testes ao som dos Nouvelle Vague, "dei umas voltas" e encontrei este clip do cover do tema Killing Moon, dos Echo And The Bunnymen, produzido a partir de excertos de Coeur de Secours (1973) de Piotr Kamler, cineasta de animação polaco. de volta à secretária, tudo me pareceu mais leve.



segunda-feira, 1 de junho de 2009