sábado, 13 de fevereiro de 2010

três poetas*



















COMO PINTAR UM PÁSSARO
Pinte primeiro uma gaiola
com a porta aberta.
Em seguida pinte
alguma coisa graciosa,
alguma coisa simples,
alguma coisa bonita,
alguma coisa útil...
ao pássaro.
Depois, coloque a tela contra uma árvore
no jardim,
no bosque
ou na floresta
e esconda-se
atrás da árvores
em dizer nada, sem se mexer.
Às vezes o pássaro chega logo,
mas pode levar muitos, muitos anos
até se resolver.
Não desanime,
espere.
Espere, se preciso, durante anos.
A velocidade ou a lentidão da chegada
do pássaro, não tem a menor relação
com a qualidade da pintura.
Quando ele chegar
(se chegar)
mantenha o mais profundo silêncio,
espere que ele entre na gaiola.
Depois que entrar,
feche lentamente a porta com o pincel.
Aí então
apague uma por uma todas as varetas.
(Cuidado para não esbarrar em nenhuma pena
do pássaro.)
Finalmente pinte a árvore,
reservando o mais belo de seus ramos
ao pássaro.
Pinte também a verde folhagem e a doçura do
vento,
a poeira do sol,
o rumorejo dos bichinhos da relva no calor da
estação.
Depois aguarde que o pássaro se decida a
cantar.
Se ele não cantar,
mau sinal:
sinal de que o quadro não presta.
Mas bom sinal, se ele canta:
sinal de que você pode assinar o quadro.
Então retire suavemente
uma pena do pássaro
e escreva o seu nome a um canto do quadro.


Jacques Prévert, tradução de Carlos Drummond de Andrade 
*(obrigada pela correcção, Miguel)
(poema encontrado aqui , ilustração de Wolf Erlbruch do livro "The King and the sea" encontrada ontem na Ilustrarte; fotografias da Lena)

2 comentários:

Anónimo disse...

Origada por me teres levado ao jardim dos poetas da ilustração.
Havia flores muitas bonitas, semeadas por jardineiros que só podem ter coração de poetas, mas as flores do Wolf Erlbruch foram as que mais me ecantaram.
Beijinho.
Lena

leonor disse...

iniciação nas pérolas...