quinta-feira, 20 de agosto de 2015

trago-a comigo












Excerto
A mãe corta retalhos da paisagem
e cose-os uns aos outros, sendo que há
por ali um critério indecifrável
e não sabemos bem para o que olhamos.
Pois aquilo que corre está imóvel,
por exemplo, a água que essa mãe
com um gesto deteve e que, parecendo
cair, não cai.
Tornado vidro
o leito daquele rio,
como por acção de uma temperatura,
um vidro doce, ainda iluminado
pelo verão que entrou nele,
um vidro azul, malhado pelo frio
que o quis atravessar
e fracassou.

Hélia Correia, do poema “Mãe Cargaleiro (I)”

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