terça-feira, 3 de novembro de 2009

vivant!


img. daqui

"O Mundo começou sem o homem e acabará sem ele. As instituições, os costumes e os hábitos que eu teria passado a vida a inventariar e a compreender são uma eflorescência passageira de uma criação em relação à qual não possuem qualquer sentido senão talvez o de permitir à humanidade desempenhar o seu papel. Longe de ser este papel a marcar-lhe um lugar independente e de ser o esforço do homem – mesmo condenado – a opor-se em vão a uma degradação universal, ele próprio aparece como uma máquina, talvez mais aperfeiçoada que as outras, trabalhando no sentido da desagregação de uma ordem original e precipitando uma matéria poderosamente organizada na direcção de uma inércia sempre maior e que será um dia definitiva. Desde que ele começou a respirar e a alimentar-se até à invenção dos engenhos atómicos e termonucleares, passando pela descoberta do fogo – e excepto quando se reproduz -, o homem não fez mais do que dissociar alegremente biliões de estruturas para reduzi-las a um estado em que elas já não são susceptíveis de integração. Sem dúvida, ele construiu cidades e cultivou campos; mas, quando pensamos neles, estes objectos são, eles próprios, máquinas destinadas a produzirem inércia a um ritmo e numa proporção infinitamente mais elevada que a quantidade de organização que implicam. Quanto às criações do espírito humano, o seu sentido não existe senão em relação a ele, e elas confundir-se-ão com a desordem quando ele tiver desaparecido.
"

Tristes Trópicos
Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
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