domingo, 30 de novembro de 2008

Retratos









"O que define a identidade, essa frágil e inconsistente - mas necessária - sensação de ser?"

Jorge Rodriguez-Gerada. Artista cubano, vive entre Barcelona e Nova Iorque.
Arte partilhada, arte pública, na rua, com aqueles que a habitam.
Gosto muito.
(mais imagens aqui)

sábado, 29 de novembro de 2008

O Leão e o Coelho Saltitão










imagens retiradas do blog da ilustradora


Título: O Leão e o Coelho Saltitão
(a partir de um conto tradicional do povo Luvale, da região leste de Angola)
Texto: Ondjaki
Ilustração: Rachel Caiano
Caminho

Lançamento no dia 2 de Dezembro às 18h30 na Livraria Pó dos Livros , com a presença de Ondjaki e Rachel Caiano



«O Coelho explicou ao Leão que era uma boa ideia prepararem um lugar apertado, com paus altos, como se fosse um pequeno quintal, onde ele, o Coelho, faria o enterro do seu cão. Depois convidariam todos os animais da Floresta Grande para virem ao funeral e...
– Mas tu tens um cão? – interrompeu o Leão, muito espantado.
– Não, claro que não.
– Então como é que o vais enterrar?
– Não entendes, meu velho... O cão és tu – sorriu o Coelho Saltitão.
– Então eu não sou o Leão?! – o rei da Floresta coçou a testa.
– Deixa-me terminar, meu velho, a ver se entendes o plano. Eu digo que tinha um cão, e que o meu cão morreu de fome. Convido-os para um enterro daqueles que nós fazemos aqui na nossa Floresta, com muita bebida. Tu ficas quieto como se fosses o cão morto. Quando todos estiverem bêbados e adormecerem, finalmente teremos uma bela refeição e ainda vai sobrar carne para muitos meses.
– Mas tu comes carne? – perguntou o Leão.
– Ando um pouco cansado de cenouras – explicou o Coelho. (...)»

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Bicho da Sida



VIH, O Bicho da Sida
de Rui Zink e António Jorge Gonçalves

"É um livro de consulta, de brinquedo, que duma forma suave fala daquilo que às vezes está silenciado. Os direitos das vendas vão para as associações da área" (Rui Zink)

Lançamento na Fnac Chiado, no dia 3 de Dezembro às 20h

Blowing in the wind



Horacio Gatto

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

The return of the real



(imagens daqui e daqui)

Exposição de Alice Geirinhas

Até dia 25 de janeiro de 2009

Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira

Sísifo


imagens retiradas daqui
"Sim, e eu vi Sísifo em violento tormento, procurando subir uma pedra monstruosa com as suas duas mãos." Homero, Odisseia


Filho de Éolo, rei da Tessália, e Enarete, Sísifo era considerado o mais astuto de todos os mortais. Foi o fundador e primeiro Rei de Ephyra, depois chamada Corinto, onde governou por diversos anos. Casou-se com Merope, filha de Atlas, sendo pai de Glauco e avô de Belerofonte. Mestre da malícia e dos truques foi um dos maiores ofensores dos deuses.

Segundo o mito, Egina, a filha do deus-rio Esopo foi raptada por Zeus por este se ter encantado com a sua beleza. Desesperado pelo desaparecimento da filha, o deus foi procurado por Sísifo, o qual prometeu revelar a autoria do rapto caso Esopo fornecesse água à cidade de Corinto.

Com esta atitude, Sísifo despertou a raiva do grande Zeus, que enviou o deus da morte, Tanatos, para que o levasse ao mundo subterrâneo. Porém o esperto Sísifo conseguiu enganar o enviado de Zeus e fez dele seu prisioneiro. Enquanto Tanatos permanecia cativo, ninguém na Terra podia morrer, e o poder de Hades (deus dos mortos) estava ameaçado.

Foi então enviado o deus da guerra, Ares, para o libertar, de modo a que a ordem natural fosse restabelecida. Quando novamente o deus Tanatos tentou levá-lo ao mundo inferior, Sísifo fez a sua esposa prometer-lhe que não iria enterrá-lo e que deixaria o seu corpo exposto no meio de uma praça pública. Quando acordou, Sísifo disse a Hades que precisava retornar à terra para repreender Merope por não haver enterrado o seu corpo.

Deste modo conseguiu convencer o deus de que enquanto não fossem prestadas as habituais cerimónias e oferendas, ele não podia ser considerado verdadeiramente morto. Usando este subterfúgio, Sísifo conseguiu permanecer por mais algum tempo no mundo dos vivos, até que a paciência de Zeus se esgotou. O deus resolveu pôr um fim à malícia do mortal, enviando Hermes para conduzi-lo à força ao reino das sombras.

Sísifo foi então condenado pelos deuses do Olimpo, a rolar um enorme rochedo, incessantemente, até o alto de uma montanha. Quando, finalmente, conseguia empurrá-la até o cimo, a pedra caía novamente em virtude de seu próprio peso. Os deuses impuseram este castigo a Sísifo por considerarem não existir punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.

Contudo, para Homero o conformismo de Sísifo perante tal medíocre tarefa, fez dele o mais prudente e o mais sábio dos mortais que vagueavam pela Terra.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

terça-feira, 25 de novembro de 2008

TRUTH AND TALES

ilustração de Pekka Vuori

Esta exposição de Ilustração de Livros para a Infância inaugura hoje às 19h, na Galeria Palácio Galveias.

Dirigida a todo o público é concebida especialmente para o público infantil e famílias. Os visitantes são convidados a entrar nos espaços do imaginário dos contos: um grande bosque, uma cidade, o mar, o céu através de uma cenografia construída a partir das ilustrações expostas.

Serão mostrados ao público português 106 originais de ilustração de 29 autores finlandeses de livros para a infância: Jaana Aalto, Aino Havukainen, Sami Toivonen, Tove Jansson, Kaarina Kaila, Liisa Kallio, Erika Kovanen, Inari Krohn, Mika Launis, Jukka Lemmetty, Veronica Leo, Kristiina Louhi, Leena Lumme, Markus Majaluoma, Outi Markkanen, Anne Peltola, Alexander Reichstein, Martti Ruokonen, Christel Rönns, Ville Salomaa, Irmelin Sandman Lilius, Salla Savolainen, Hannu Taina, Virpi Talvitie, Oili Tanninen, Anu Vanas, Julia Vuori, Pekka Vuori e Taruliisa Warsta.
Esta exposição é presentada pela Bedeteca de Lisboa e produzida pela Associação de Ilustradores Finlandeses, com o patrocínio o Ministério da Educação da Finlândia e da Fundação para a Cultura da Finlândia e o apoio da Embaixada da Finlândia.


Galeria Palácio Galveias
Campo Pequeno
Lisboa

Até 25 de Janeiro 2009 no seguinte horário: 3ª/6ª, das 10h às 19h; Sáb./Dom. das 14 às 19h. Encerra às Segundas e Feriados.
(informação retirada daqui)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Bichos Diversos

O Gato-Sapato
O meu gato
dorme num sapato.
Mas diz
que se sente
muito infeliz,
pois dormiria mais quente
numa pantufa.
E, por isso, bufa!



Bichos Diversos em Versos
texto de António Manuel Couto Viana
ilustrações de Afonso Cruz
Texto Editora

(imagens retiradas daqui)

sábado, 22 de novembro de 2008

Rostos inesquecíveis



When I get upset with my real imaginary friend

Os dias de nuvens

Falas tu ou falo eu?

Evelina Oliveira
Com um vasto currículo de exposições individuais e colectivas, Evelina Oliveira, nascida em Abrantes, em 1961, ilustrou livros bem conhecidos do público infantil como “Rosa Minha Irmã Rosa”, “Os Olhos da Ana Marta” ou “Chocolate à Chuva”, de Alice Vieira.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O fim da viagem de Djuku



9

O senhor Isidoro agarrou-a pelos ombros e fê-la sentar-se.
— Seca as tuas lágrimas, Djuku. Diz-nos o que te aconteceu.
Aconteceu então o seguinte. Djuku, que já havia retomado o fôlego, começou a contar e os objectos que estavam há tanto tempo dentro dela saíram da sua boca para virem, à vez, pontuar o seu discurso: a partida da aldeia, a viagem, a chegada à cidade e à BARRIGA DA BALEIA, o trabalho e a sua grande solidão. Os clientes e o senhor Isidoro apanhavam os objectos à medida que eles surgiam.
A velha guitarra de Quecuto saiu do seu corpo com os perfumes das músicas tantas vezes ouvidas, e um cliente apanhou-a para a tocar.
A palmeira inclinada e o embondeiro do lago saíram do seu corpo e um cliente pegou neles e foi pô-los junto à entrada do restaurante.
O caldeirão do Nhô-Nhô saiu do seu corpo e um cliente colocou-o no meio da sala.
A casa de Pepito saiu do seu corpo e os clientes apossaram-se dela para arrumar a sala.
A barca e as redes de pesca de Benvindo saíram do seu corpo e os clientes colocaram-nas à sombra do embondeiro.
Sim, logo em seguida Djuku sentiu-se aliviada e em paz. Viu as coisas que estavam nela firmemente atadas como carga de um navio partilhadas por todos. Percebeu imediatamente que a aldeia tinha desposado o restaurante.
Agora toda a gente conhecia a história de Djuku.
— Não podemos ficar aqui! — disse alguém.
— É preciso festejar isto — disse um outro — como na aldeia!


Nota ao leitor
Depois deste famoso dia, a divisória que separava a cozinha da sala do restaurante foi derrubada pelo senhor Isidoro com as suas próprias mãos.

Leitor, se tiveres vontade de ir à BARRIGA DA BALEIA para saborear os melhores pratos que existem, não deixes de trocar dois dedos de conversa com Djuku, agora que ela cozinha no meio de todos. E já agora, por favor, pede-lhe da minha parte notícias da aldeia.

Alain Corbel
A viagem de Djuku
Lisboa, Caminho, 2003

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

terça-feira, 18 de novembro de 2008

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

2009 Mundos a Céu Aberto



O livro agenda para 2009 das Edições Eterogémeas, é um prazer para os sentidos. Mês a mês, ilustrações de vários autores acompanharão os vossos dias e aquilo que sobre eles vos apetecer registar.
Eugénio Roda é o autor das frases deste pequeno tesouro:
" Dois mil e nove é mais um ano que se move. Na rotação dos dias centrifugam-se mundos. Na translação das semanas formam-se nuvens de coisas vivas, matéria para transformar meses a fio: em galáxias difíceis de ver à vista desarmada. Visto de perto, está tudo feito e tudo por fazer. Feito de longe, muito está visto e muito mais por ver: nada que um telescópio não possa resolver. As leis do universo são para cumprir, mas, à luz das estrelas, todos os sonhos continuam legítimos”
E a fechar a agenda e o ano estão estas palavras:
“Anotar os dias é torná-los notáveis.”



sábado, 15 de novembro de 2008


Vitali Konstantinov


As mães apaziguam os medos.
Os pais também.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A minha mãe adormeceu



img. Gabriel Pacheco



História do Sr. Mar

Deixa contar...
Era uma vez
O senhor Mar
Com uma onda...
Com muita onda...
E depois?

E depois...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
Ondinha vai...
Ondinha vem...
E depois...
A menina adormeceu

Nos braços da sua Mãe...

Matilde Rosa Araújo, O Livro da Tila

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Continuo viagem ...Djuku, cap. 7 e 8





7

É noite. O restaurante está fechado. Um a um, todos os clientes se foram. Até o senhor Isidoro já foi para sua casa. Djuku ficou sozinha. Sentada, olha as palmas das mãos, a geografia das rugas da sua pele, talvez procurando um caminho a seguir.
Tudo está calmo na cozinha. Mas Djuku ouve um barulho imenso. Os objectos, acolchoados no interior dela, estão ali, agitados, barulhentos, e querem escapar a qualquer preço.
«O vosso lugar não é aqui», suplica Djuku, «deixem-se estar sossegados.» Eles não queriam ouvir nada e continuaram com a sua terrível algazarra. Então, uma vez mais, Djuku conta a historia a si mesma. Em voz alta, invoca a aldeia e as suas gentes, o calor que faz quando o Sol atinge o seu zénite, o odor do carvão de madeira, do peixe que foi posto a secar nos telhados das casas, o da poeira que tudo invade.
Absolutamente decidida, entra no restaurante.
A sua memória, tão viva, apazigua-se a pouco e pouco. Quando tudo parece voltar a estar em ordem, que de novo nela se instalou a paz, Djuku deixa o restaurante e vai para casa descansar.


8
Quando Djuku cozinha, tudo o resto perde importância.
Os clientes na sala bem podem falar alto e grosso, a rádio e a televisão bem podem armar zaragata, que Djuku consagra-se à sua tarefa de tal maneira que só ouve as encomendas do criado de servir. Ela é como uma rainha no seu reino e cada uma das suas coisas, marmitas, panelas, pratos, talheres, especiarias, pratos ou fogões, a protegem da confusão, mantendo-a no centro daquele forte, a cozinha. Nem mesmo o senhor Isidoro pode ali entrar.
Certo dia, contudo, um estranho projéctil atingiu Djuku em cheio: era uma palavra.
Uma palavra que havia escapado da boca do apresentador de televisão. Djuku deixou cair a batata e a faca que segurava nas mãos e deixou-se literalmente invadir. A palavra cresceu nela, ganhou balanço, fez-se furacão, explosão. Acabou por inundá-la, deixando apenas uma casca vazia, desorientada, frágil.
Djuku entrou na sala e dirigiu-se, hipnotizada, para a televisão. Ao vê-la de lágrimas nos olhos, os clientes calaram-se todos, olharam uns para os outros e interrogavam com esse mesmo olhar o senhor Isidoro.
Este, sentado no lugar do costume, perguntou com voz inquieta:
— Está tudo bem, Djuku?
Ela não respondeu. Assoou o nariz com o punho. Soluçava.
«Deve ter queimado os dedos», pensa um cliente.
— Minha senhora, a caldeirada estava fa-bu-lo-sa, devorei-a todinha! Veja aqui o meu prato — diz-lhe outro.
— Mas o que é que se passa hoje? — perguntaram de súbito a uma voz todos os clientes.
Pela primeira vez desde a chegada de Djuku, os clientes da BARRIGA DA BALEIA viram-na e olharam-na verdadeiramente.
A palavra, insignificante para eles, era o nome da aldeia de Djuku.