terça-feira, 7 de outubro de 2008

A Viagem de Djuku (1)

"No exacto momento em que parte, Djuku apercebe-se de que é a primeira vez que deixa a sua aldeia.
Desde o seu nascimento até hoje, Djuku viveu sempre rodeada pelos seus na pequena aldeia à beira da savana. Ela conhece cada recanto. E ninguém lhe é ali desconhecido. Do mesmo modo, todos os aldeões sabem quem é Djuku:
— Djuku? É aquela que sabe assobiar, melhor até do que um pássaro!
— Quando há por aqui almoço de festa ou de cerimónia, é sempre Djuku quem os faz: ela conhece todas as receitas e até inventa mais!
É verdade que Djuku cozinha galinha como ninguém, mas hoje Djuku vai-se embora. Decidiu partir para longe, muito longe. É que aqui na aldeia, apesar dos amigos, apesar das cerimónias, não há trabalho suficiente.
Fez-se à estrada e fixa os olhos na linha do horizonte para não se voltar, para não chorar. Bem, vamos lá a ver, partir assim é demasiado duro. Então, uma última vez, e antes que a aldeia desapareça na desordem das ervas altas, ela olha-a. Olha-a durante tanto tempo e tão apaixonadamente que todas as coisas onde o seu olhar toca entram no seu corpo.
Agora sim, Djuku pode pôr-se a caminho.
A velha guitarra de Quecuto entra no seu corpo. E com ela todos os perfumes das músicas tantas vezes ouvidas.
A palmeira inclinada e o embondeiro do largo entram no seu corpo.
O caldeirão de Nhô-Nhô entra no seu corpo.
A casa de Pepito entra no seu corpo, apesar do seu tecto desgrenhado.
A barca e as redes de pesca de Benvindo que repousam sobre a areia entram no seu corpo. Sente que todas estas coisas estão dentro dela firmemente atadas como carga de um navio. Sente que, a cada passo dos muitos que dará, a aldeia estará consigo."

A Viagem de Djuku, Alain Corbel e Éric Lambé, Caminho

Partindo de uma das questões mais relevantes da actualidade – a imigração e a integração de estrangeiros na sociedade portuguesa – este conto, com soberbas ilustrações de Éric Lambé, repletas de exotismo e recriando com expressividade o encontro de culturas de que o texto fala, apela a um olhar mais atento, e também mais solidário e tolerante, perante o outro, a sua cultura e a sua especificidade. A multiculturalidade ganha, pois, neste livro, uma particular atenção, talvez pelo facto de os seus autores serem estrangeiros.

Estas e outras sugestões, podem ser vistas em:
http://www.casadaleitura.org/
Para mais informações sobre o Ano Europeu do Diálogo Intercultural podem visitar:
http://www.aedi2008.pt/

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