sexta-feira, 25 de abril de 2014
acorda, filha! não podes ir à escola porque houve uma revolução…
"As efemérides têm, pelo menos, o mérito de estimular a memória. Que ela nunca se perca quando se trata do 25 de Abril. O Pato Lógico associa-se à comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos com a publicação, em parceria com a IN-CM, do livro "Salgueiro Maia. O Homem do Tanque da Liberdade".
O texto de José Jorge Letria e as ilustrações de António Jorge Gonçalves recordam-nos o homem que se tornou símbolo desta data, que há 40 anos trouxe a tão esperada queda de um regime opressivo. Que nunca se esqueça Salgueiro Maia e aqueles que lutaram para tornar possível a liberdade que temos hoje!"
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quarta-feira, 23 de abril de 2014
ode aos livros que não posso comprar
Hoje, fiz uma lista de livros,
e não tenho dinheiro para os poder comprar.
É ridículo chorar falta de dinheiro
para comprar livros,
quando a tantos ele falta para não morrerem de fome.
Mas também é certo que eu vivo ainda pior
do que a minha vida difícil,
para comprar alguns livros
- sem eles, também eu morreria de fome,
porque o excesso de dificuldades na vida,
a conta, afinal certa, de traições e portas que se fecham,
os lamentos que ouço, os jornais que leio,
tudo isso eu tenho de ligar a mim profundamente,
através de quanto sentiram, ou sós, ou mal-acompanhados,
alguns outros que, se lhe falasse,
destruiriam sem piedade, às vezes só com o rosto,
quanta humanidade eu vou pacientemente juntando,
para que se não perca nas curvas da vida,
onde é tão fácil perdê-la de vista, se a curva é mais rápida.
Não posso nem sei esquecer-me de que se morre de fome,
nem de que, em breve, se morrerá de uma fome maior,
do tamanho das esperanças que ofereço ao apagar-me,
ao atribuir-me um sentido, uma ausência de mim,
capaz de permitir a unidade que uma presença destrói.
Por isso, preciso de comprar alguns livros,
uns que ninguém lê, outros que eu próprio mal lerei,
para, quando se me fechar uma porta, abrir um deles,
folheá-lo pensativo, arrumá-lo como inútil,
e sair de casa, contando os tostões que me restam,
a ver se chegam para o carro eléctrico,
até outra porta.
Jorge de Sena
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para comprar livros,
quando a tantos ele falta para não morrerem de fome.
Mas também é certo que eu vivo ainda pior
do que a minha vida difícil,
para comprar alguns livros
- sem eles, também eu morreria de fome,
porque o excesso de dificuldades na vida,
a conta, afinal certa, de traições e portas que se fecham,
os lamentos que ouço, os jornais que leio,
tudo isso eu tenho de ligar a mim profundamente,
através de quanto sentiram, ou sós, ou mal-acompanhados,
alguns outros que, se lhe falasse,
destruiriam sem piedade, às vezes só com o rosto,
quanta humanidade eu vou pacientemente juntando,
para que se não perca nas curvas da vida,
onde é tão fácil perdê-la de vista, se a curva é mais rápida.
Não posso nem sei esquecer-me de que se morre de fome,
nem de que, em breve, se morrerá de uma fome maior,
do tamanho das esperanças que ofereço ao apagar-me,
ao atribuir-me um sentido, uma ausência de mim,
capaz de permitir a unidade que uma presença destrói.
Por isso, preciso de comprar alguns livros,
uns que ninguém lê, outros que eu próprio mal lerei,
para, quando se me fechar uma porta, abrir um deles,
folheá-lo pensativo, arrumá-lo como inútil,
e sair de casa, contando os tostões que me restam,
a ver se chegam para o carro eléctrico,
até outra porta.
Jorge de Sena
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