domingologia
Porque é que as segundas têm de
estrangular os domingos;
e o outono, o verão;
e o tempo adulto, o tempo mais jovem?
Sob os jardins,
morreram outros jardins.
Atrás do sol,
outros sóis sucumbem,
como roupas velhas num armário.
Ele já não faz perguntas:
apaixonou-se por uma música.
Alain Bosquet
[Trad. Inês Dias]
via
1 comentário:
há muito tempo - tão longe daqui! -ouvia sempre a mesma música. sempre quer dizer sempre, todo o tempo e só aquela, atribuía isso a um estado de paixão incontrolada, uma devoção de fogo que não deixava espaço nem descanso, uma febre que o empurrava cada vez mais para dentro daquela melodia em espiral contínua. nunca se cansou, nunca esgotou o prazer e a perdição, nunca se sentiu saciado. a repetição nunca era repetição, era eco, reverbação, recriação suspensa de partes do ritmo, harmonias sobrepostas, prolongamento das pausas, aceleração repentina de tempos curtos, silêncios introduzidos que ampliavam o prazer de chegar ao fim e recomeçar. isso mantinha-lhe sempre o sorriso fresco e o andar leve, isso dava-lhe sempre o embalo necessário e certo.
cn,a mala vazia
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